Artigo
O silêncio que grita: Quando o medo vira estatística e a dor, resistência
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Eu olho os números. E eles não são só números. São rostos, histórias interrompidas, futuros arrancados. Quando leio que o feminicídio alcançou um pico histórico, que a cada dia, em média, quatro mulheres são tiradas da vida, não consigo evitar a pergunta que ecoa na alma: o que estamos deixando de fazer? Onde estamos falhando como sociedade?
Não é sobre estatísticas frias. É sobre a amiga que tem medo de voltar para casa, a irmã que se cala diante de uma ameaça, a vizinha que desapareceu sem deixar vestígios. É sobre essa dor latente que permeia nossos encontros, nossas conversas, até mesmo nossos sonhos. É sobre cada mulher que aprendeu a sorrir com medo. Há um silêncio que grita em cada mulher que hesita em denunciar, em cada gesto que esconde um pânico.
Vivemos em uma era de hiperconexão, de vozes amplificadas, de debates infindáveis. Mas como é possível que, em meio a tanto barulho, os gritos de socorro ainda não sejam ouvidos? O feminicídio não é um dado isolado; é o ápice de uma cultura que ainda se recusa a ver a mulher como um ser humano pleno, digno de respeito, seguro e livre. É o reflexo mais cruel da misoginia enraizada, da impunidade que encoraja, da indiferença que mata.
E então, o que fazemos com essa dor? Com essa raiva que ferve no peito? Podemos nos esconder na estatística, tratar o assunto como algo distante, “do outro”. Ou podemos deixar que essa realidade nos invada, nos confronte, nos impulsione. Que cada número seja um empurrão para a nossa própria introspecção: estou sendo parte da mudança ou mais um espectador?
Este não é apenas um apelo às autoridades – embora elas tenham um papel fundamental e urgente. É um apelo a cada um de nós. Aos homens, para que reflitam sobre seus privilégios e combatam a violência em todas as suas formas, começando pelo próprio círculo. Às mulheres, para que se unam, se fortaleçam e não se calem. À sociedade, para que pare de normalizar o que é inaceitável.
Os números são alarmantes, sim. Mas também são um chamado. Um chamado para que nossos corações não aguentem mais o silêncio que grita. Que a dor se transforme em movimento, a indignação em ação. Que a vida de cada mulher seja mais forte do que qualquer silêncio.
*Jacqueline Cândido de Souza é advogada e servidora pública dedicada, engajada na defesa dos direitos das mulheres e na promoção da igualdade de gênero.

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Por que tantas mulheres se perdem em amores tóxicos?

Meu coração aperta. Dói.
Para cada notícia de feminicídio – o ápice mais brutal da violência contra a mulher – sei que há centenas de histórias silenciosas. Mulheres que respiram diariamente o peso sufocante de relações tóxicas. Elas não ganham espaço nas manchetes, mas têm suas almas feridas dia após dia por humilhações, manipulações e ameaças.
Desde cedo, ouvimos que precisamos ser “escolhidas”. Que nosso valor está em ter e manter um relacionamento. Como se houvesse um vazio que só um “amor” pudesse preencher — mesmo quando esse amor nos aprisiona. Herdamos de uma sociedade machista a ideia de que devemos nos moldar ao desejo do outro e aceitar migalhas para sermos vistas como “boas o suficiente”.
É assim que nos sujeitamos a críticas disfarçadas de cuidado, ao ciúme possessivo travestido de amor, ao afastamento sutil de tudo que nos conecta à nossa essência. Toleramos o intolerável, anulamos nossos limites e sufocamos nossa própria voz.
E a pergunta que tantas mulheres se fazem é: “Por que não saí antes?” O medo paralisa. Ele é um dos principais motivos por trás da permanência. É o peso invisível de uma cultura que nos ensina que nosso papel é aguentar.
E eles sabem como desestabilizar: nos chamam de loucas, exageradas, nos silenciam. Controlam não só nossas emoções, mas também nossas finanças, tratando nosso próprio dinheiro como se não fosse nosso. O silêncio punitivo é usado como arma: isola, confunde e destrói.
Mas é preciso lembrar: não há amor onde há controle. O verdadeiro amor liberta, acolhe, respeita. E ninguém precisa aceitar menos do que merece.
A violência contra a mulher tem muitas faces: física, psicológica, moral, patrimonial. E todas elas são reconhecidas como crime. A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) é um instrumento de proteção real. Ela reconhece que a dor emocional também fere, que a ameaça também mata, que o controle também oprime.
Buscar ajuda não é fraqueza, é coragem. É o primeiro passo para retomar sua vida. Se você ou alguém que você conhece precisa de apoio, procure os recursos disponíveis: serviços de acolhimento, delegacias da mulher, defensoria pública, centros de apoio psicológico. Você não está sozinha. Que a dor se transforme em voz. Que o silêncio seja rompido. E que cada mulher saiba: sua liberdade é inegociável.
*Jacqueline Cândido de Souza é advogada e servidora pública dedicada, engajada na defesa dos direitos das mulheres e na promoção da igualdade de gênero.
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