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Livro-reportagem investiga a fortuna repentina de FHC após Presidência

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Todo jornalista, dizia um dos mestres, há de ter a alma de repórter. De fato, batem asas no peito de alguns, movidos pelo impulso de buscar a verdade dos fatos e iluminar a consciência do leitor ou dos ouvintes. Alceu Luís Castilho é um destes profissionais midiáticos abençoados pela importância da tarefa, ou da missão, se preferirem, cumprida à risca. Jornalista autêntico como pretendia aquele mestre. E a missão é decifrar um dos mais vistosos hipócritas nativos, qual fosse uma cariátide dos palácios genoveses capaz de pisar o solo comum.

Este enredo começa um ano atrás, julho de 2018, por uma magistral reportagem de capa assinada por Alceu e publicada por CartaCapital. O protagonista é um professor universitário aposentado que se tornou presidente da República e amealhou uma fortuna além de conspícua: terras férteis para a cana-de-açúcar, gado de raça e cavalos resignados, de apartamentos de alentado espaço no exterior e no País, uma fazenda habilitada a se apresentar como grife arquitetônica. A comparação com Lula, processado e condenado sem provas por obra de uma tramoia (nem posso dizer jurídica) que lhe atribui a propriedade de um triplex de 200 metros quadrados em uma praia de farofeiros, onde FHC não passaria nem mesmo poucas horas, obra de ficção maligna, como demonstram as recentes revelações do site The Intercept.

Já na reportagem, Alceu perguntava-se como se deu que a transparente abastança do ex-presidente tucano não tenha despertado, em momento algum, a mais pálida sombra de suspeita. Cadê a corte suprema que permitiu a ofensa fatal à Justiça vendada? Pois FHC, além de ser cotado, não se sabe por quem, para príncipe dos sociólogos (Paulo Henrique Amorim o definia como “Farol de Alexandria”), tornou-se, graças às estripulias tucanas, o príncipe da casa-grande.

Não é por acaso que ele tenha recomendado “esqueçam o que escrevi”, a bem de um perfeito encaixe à sombra do reacionarismo mais abjeto. Um ano depois, Alceu volta à carga com um livro, O Protegido – Por Que o País Ignora as Terras de FHC. Trata-se de um aprofundamento das informações da reportagem de capa, algo assim como arredondar as provas sobre as dimensões e o alcance do império fernandista. Complemento rico, diria mesmo definitivo. Em um país democrático e civilizado, FHC estaria riscado de vez do mapa político e moral. Diga-se que ele teve dois guias de certa forma incomparáveis no caminho da riqueza, dois experts na colheita de bem disfarçados golpes de mão onde se apresentava a oportunidade de ouro, Serjão Motta e Jovelino Mineiro. Este casado com Carmo, filha de Roberto de Abreu Sodré, a valorizar a linhagem. Neste trajeto, comparecem pecuaristas, banqueiros e empreiteiros, sempre prontos a secundar os diversos projetos de grandeza do seu herói protegido.

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O afinadíssimo Alceu de um ano atrás e o de hoje fecham o círculo de maneira irretocável, como é praxe para um jornalista com alma de repórter, mas a pergunta fica ainda sem resposta: por que o ex-presidente tucano, aquele mesmo que quebrou o País três vezes e comprou votos no Congresso para abocanhar a reeleição, não desperta suspeitas em relação a um poder econômico aparentemente inalcançável para um professor universitário aposentado? A resposta está nas entrelinhas do livro: porque FHC sempre cuidou de agradar ao pessoal da casa-grande.


Seu esquerdismo se reduziu a torcer por Emil Zatopek, a locomotiva humana de além Cortina de Ferro, na São Silvestre de 1953. Seu exílio no Chile consta entre suas melhores atuações, mesmo porque não houve por parte da ditadura ameaça alguma a justificá-lo. Até agora, fortes dúvidas se alargam em relação à célebre teoria da dependência, se deve mais a Enzo Falletto do que ao parceiro brasileiro. Maria da Conceição Tavares apontava nele o ouvinte atento às falas alheias, capaz de reproduzi-las com outras palavras para seu uso e consumo com a expressão impassível de Buster Keaton.

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Certa vez, entrevistei o ex-presidente na véspera da eleição de 1994 e logo de saída constatei que à época de uma visita ao Brasil de Jean-Paul Sartre ele professava declaradamente a religião “vermelhinha”. “Não, não – respondeu de bate-pronto –, naquele tempo eu já misturava Marx com Weber.” Observei então que no prefácio do seu primeiro livro, Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional, tese do seu doutorado, ele mesmo escrevera ter usado a bem da sua análise o “método dialético marxista”. “Bem lembrado – comentou –, mas na segunda edição retirei a referência.”

Grande tormento da vida de FHC foi mesmo Lula, de quem cultivou uma inveja invencível e se distinguiu, além de outras diferenças, pela desfaçatez sem limites, e o sentimento agudíssimo nem arrefeceu diante da perseguição insana contra o líder do Partido dos Trabalhadores, ex-presidente como ele. Não somente evitou qualquer pronunciamento a respeito, e lhe caberia ao cabo de uma trajetória muito badalada pela mídia nativa, que, depois de celebrá-lo como salvador da pátria, passou a enxergá-lo como o Oráculo de Delfos. A resposta à pergunta de Alceu está aí, na viscosa habilidade de escapar das divididas para tornar-se um dos mais autorizados intérpretes da reação no infeliz país da casa-grande e da senzala.

O JORNALISTA COM ALMA DE REPÓRTER E, NO ESPAÇO DE UM ANO, A PROVA DOS NOVE DE UMA ABASTANÇA ALÉM DE SUSPEITA

Nestas nossas plagas brutalmente desiguais, uma figura desse porte fica credenciada a cometer todos e quaisquer pecados com a certeza da impunidade. Irretorquível o ato de acusação do jornalista Alceu, vão, no entanto, para atingir o inatingível, o hóspede cativo da mansão dos senhores, com todos os méritos para tanto. Resta aos leitores do livro de Alceu o retrato fiel de FHC e de suas ambições de duvidoso aristocrata do saber, mas certamente da grana.

 

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Encontro Estadual de Procons debate proteção do consumidor em contratos bancários

O evento, que segue nesta quarta-feira (06), visa fortalecer a política de defesa dos direitos do consumidor em Mato Grosso

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A proteção ao consumidor nos contratos bancários” é o tema da edição de 2023 do Encontro Estadual de Defesa do Consumidor, realizado pela Secretaria Adjunta de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor (Procon-MT), vinculada à Secretaria de Assistência Social e Cidadania (Setasc). O tema é um dos assuntos que mais têm gerado reclamações nos órgãos de defesa do consumidor em Mato Grosso.

O evento, que teve início na segunda-feira (04.12) e segue até esta quarta-feira (06), reúne cerca de 200 pessoas ligadas à defesa do consumidor no estado, entre servidores e dirigentes do Procon Estadual e dos 52 Procons Municipais, integrantes de Conselhos de Defesa do Consumidor e representantes de instituições governamentais e entidades da sociedade civil.

O Encontro Estadual de Procons tem como objetivo fortalecer a política de defesa dos direitos do consumidor em Mato Grosso e promover a atualização e reflexão sobre as novas normativas que envolvem a defesa do consumidor no Brasil.

A secretária adjunta de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor (Procon-MT), Márcia Santos, ressalta que o evento é importante para reunir os Procons e integrantes de defesa do consumidor e aprimorar os conhecimentos.

“Estamos discutindo, nessa edição, o direito do consumidor nos contratos bancários, pois observamos um aumento expressivo no número de reclamações referentes a instituições bancárias. Por isso, estamos reunidos nesses três dias, debatendo os tipos de produtos que são ofertados, os tipos de golpes em que os consumidores vêm caindo, quais são os alertas que precisamos emitir para esses consumidores e realizamos todos os tipos de discussões referentes ao direito bancário”, afirmou a secretária adjunta Márcia Santos.

Na abertura do Encontro, a deputada federal Gisela Simona (União Brasil) ministrou a palestra “33 Anos do CDC: Avanços e Desafios na Proteção dos Direitos do Consumidor”. A parlamentar, que já atuou por muitos anos no Procon-MT, destacou que a cada sete segundos um cidadão sofre tentativa de golpe financeiro, e que o que mais atraí vítimas são os golpes bancários.

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“Esse evento vem trazer esclarecimento dos direitos que o consumidor possui, para que possam alertar sobre esses golpes, e ajudar quem foi vítima a tentar recuperar parte do prejuízo que teve. Isso demonstra que o Procon está sempre antenado a tudo o que está acontecendo na sociedade e vem orientando para que o consumidor consiga se prevenir”, afirmou a deputada.

Ela ainda ressaltou os avanços nos 33 anos do Código de Defesa do Consumidor e, principalmente, os desafios ao longo dos anos.

“O CDC precisou se adaptar a esse novo momento que nós estamos vivendo. Antes, nós éramos muito focados no comércio tradicional. Hoje, nós temos o comércio eletrônico. Antes, pagávamos com dinheiro e hoje todo mundo utiliza somente o cartão para pagar ou outros meios de pagamentos eletrônicos. Então, essas novidades o consumidor tem que estar atento e a lei tem que acompanhar”, declarou.

A segunda palestra apresentou “a perspectiva dos Procons sobre a lei de superendividamento”, ministrada pela representante do órgão no Estado do Rio Grande do Sul e presidente da Associação Brasileira de Procons (Procon Brasil), Márcia Moro. Ela observou que o tema é relevante para a sociedade diante do superendividamento da população, agravado pela pandemia da Covid-19.

“O número de famílias endividadas e super endividadas vem crescendo a cada dia. Isso impacta na economia, porque são pessoas que já não têm mais crédito e estão com dificuldade, fazendo empréstimos um atrás do outro para despesas básicas. E nós temos uma preocupação muito grande com os idosos, por exemplo, os aposentados”, contou.

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Márcia Moro ainda ressaltou que a administração pública deve ficar mais atenta com o endividamento e problemas com empréstimos, já que afeta a economia local.

“É nesse sentido que os governos entram. Um evento como este é um investimento que as administrações fazem para qualificar o servidor que está na direção do Procon, e o órgão é o que está na ponta e atende a população. O Brasil tem 5.570 municípios e a gente tem 1.000 unidades de Procons, entre estaduais, capitais e interior. Na defesa do consumidor, a gente não é um órgão autor. Pelo contrário, a gente é um órgão para harmonizar a relação de consumo e resgate de cidadania”, reforçou a presidente dos Procons Brasil, Márcia Moro.

Estiveram presentes no evento o delegado da Delegacia do Consumidor (DECON), Rogério Ferreira; a presidente do Conselho Estadual de Defesa do Consumidor (Condecon), Joeli Casteli; o Defensor Público do Estado de Mato Grosso, Carlos Eduardo Freitas de Souza; o coordenador de Fiscalização do Procon-MT, Ivo Firmo, representando os servidores de Procons; a Dirigente do Procon de Colíder, Franscislayne Almeida; o secretário-geral da Comissão de Defesa de Consumidor, Bernardo Coelho, representando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT), e representando o Instituto do Consumidor e da Previdência (MT), participou o Antônio Carlos Tavares.

Também acompanharam o secretário adjunto de Direitos Humanos (Sadh) da Setasc, Kennedy Dias; a secretária adjunta de Programas, Projetos e Atenção a Família (Sappeaf/Setasc), Juliana Maciel; Diego de Oliveira (Condecon); a secretária executiva dos Conselhos de Direitos, Marilu Monteiro e a secretária executiva do Condecon, Angélica Anai.

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